eleições 2008

 

 
6 de maio de 2024
 

Interior | 08/09/2008 | 23h54min

Décio Lima fala de suas propostas como candidato a prefeito de Blumenau

Petista falou sobre seus oito anos à frente do executivo muncipal

Ao se aproximar da sala reservada para a entrevista, dia 22 de agosto, o candidato Décio Lima (PT) ficou surpreso com a quantidade de entrevistadores que o aguardavam. Estava de terno e camisa azul-clara e aparentava certa tensão. Uma hora e meia depois, bem-humorado, disse, sorrindo:

— Não teve nenhuma pergunta difícil.

A cada intervenção dos entrevistadores, o petista ficava sério. Mas logo a expressão mudava e ele respondia às questões, sempre relacionando o tema da pergunta com os oito anos de mandato à frente da prefeitura de Blumenau, entre 1997 e 2004. Décio defendeu com entusiasmo a democracia, criticou o funcionamento do sistema político nacional e falou sobre propostas do programa de governo, principalmente nas áreas de saúde, educação e trânsito.

Décio Lima concedeu a entrevista seguiinte ao Jornal de Santa Catarina, do Grupo RBS. O ex-prefeito falou à repórter Giovana Pietrzacka, aos colunistas Fabrício Cardoso, Cao Hering, Clóvis Reis, Francisco Fresard, Valther Ostermann e Maicon Tenfen e ao editor de Política Evandro de Assis.

Giovana - Bem-vindo, candidato. Obrigado por aceitar o convite. Pesquisa do Instituto Mapa, encomendada pelo Santa, mostrou que a saúde é a grande preocupação do eleitorado. O que o senhor pretende fazer para dar um basta na falta de médicos em Blumenau?

Décio Lima - Acho que a saúde é uma questão de concepção. Ou você faz uma opção por um modelo de saúde que, no meu entender, foi feito em Blumenau equivocadamente, que é a saúde curativa, ou você faz uma opção clara de que nós temos que evitar a doença. É a saúde preventiva. O que que está errado em Blumenau? Falta de dinheiro? Não. Em 2004, eu fechei meu último ano de prefeito recebendo R$ 34 milhões por ano para custeio do sistema SUS. Hoje, a prefeitura está recebendo o dobro disso. Para não dizer o dobro, no ano passado fechou com R$ 61 milhões. Esses dados não são meus. Vocês podem acessá-los e confirmá-los no site do Ministério da Saúde ou no Transparência Brasil. Entreguei a cidade com 41,8% de cobertura do Plano da Saúde da Família. Menos de 1% foi ampliado nesse período. Então, o problema da saúde é de gestão e de atitude. E de concepção. Nós deixamos todos os projetos prontos para que a cidade de Blumenau pudesse estar hoje com 70% de cobertura da Saúde da Família. O que que acontece com uma cidade como a nossa? O Cao tá mais velho, o Valther tá mais velho. Nós estamos mais velhos. Se vocês olharem o extrato do povo de Blumenau, a cidade envelheceu. Com o envelhecimento da cidade, nós precisamos mais de tratamentos continuados, do medicamento continuado. É impossível nós estarmos estagnados como estamos aqui há quatro anos. Eu não tenho receio de dizer que todo o problema verificado pela pesquisa Mapa com relação à saúde é um problema fácil de se resolvido, porque o problema difícil é quando a agente esbarra na falta de estrutura e na falta de recursos, o que não é o caso. Eu posso dizer para vocês: eu fiz 16 novos postos de saúde na cidade. Pode fazer a conta. Dos sete ambulatórios, quatro foram eu que fiz, no meu período. Me cite um ambulatório que foi feito nos últimos quatros? Ambulatório geral. Eu vi o programa eleitoral dizendo que foi feito o da Garcia. O da Garcia fui eu que fiz. Postos de saúde? Nenhum nesse período. E eu fico pasmo quando tiram uma figura que era tão importante no Programa da Saúde da Família, que era o agente de saúde. Nós todos conhecemos, culturalmente, o comportamento do médico, da enfermeira, do psicólogo, né? Nós sabemos como é que ele age, um médico, como é que ele faz o atendimento. Nós não vamos mudar esse aspecto. Mas, além de não ter ampliado a cobertura do programa da saúde, retiraram a figura do agente de saúde, precarizando esse sistema. Então, é lamentável.


Francisco - O senhor acredita mesmo que este problema pode ser resolvido em 100 dias, como o senhor fala?

Décio - Claro, até menos, posso te afirmar. Porque isso é um problema de gestão. Já, já dá para ir a 70% de cobertura. A outra questão: ausência total de Blumenau no processo da coordenação do SUS, na gestão bipartite. Blumenau não vai mais lá. Ou seja, não briga mais por recurso. Sabe, nós podíamos estar ampliando uma série de programas, mas nem sequer Blumenau se senta na mesa lá para discutir o quinhão que nos é devido.

Cao - Mas e nos seus oito anos, como é que funcionou a saúde naquele período?

Décio - Foram 16 novos postos de saúde. Elevamos em 20% a cobertura, dobramos o Programa da Saúde da Família, foram quatro ambulatórios gerais novos, dos sete existentes, e consagramos o programa preventivo, além do que...

Cao - Não havia problemas, então, na época?

Décio - Ah, havia. Havia problema, mas eu peguei, Cao... veja, eu tenho dito que eu sou candidato a prefeito não do meu passado, tão somente. Não só de erros que eventualmente possa ter feito. Mas no Brasil todos nós estávamos consolidando o resultado da 8ª Conferência Nacional da Saúde, que foi a que criou o SUS, que eu acho o melhor sistema único de saúde do mundo. Não existe um padrão similar. Só Cuba, né? Agora, nós não podemos cometer erros dessa natureza. Existem cidades com potencial igual ao nosso com cobertura de quase 100%. Hoje, na minha época, não. Sou de uma geração de prefeitos quando chegar aos 40% era uma meta extraordinária.

Valther - O agente de saúde passa por tirar das salas de espera dos hospitais o sujeito. Antes que ele vá lotar o pronto-socorro, o agente de saúde atende ele em casa. Isso foi desmontado?

Décio - Sim.

Valther - Porque nós temos um problema também que é o da superlotação das salas de recepção dos hospitais.

Décio - Com certeza, por clara opção que fizeram. Deixaram as pessoas ficarem doentes. Porque que o cara tá lá, no festejado ambulatório do Hospital Santo Antônio, para medir pressão ou com problema de hipertensão. Isso era resolvido em casa, com agente de saúde. É por isso que eu tô dizendo isso claramente: é fácil resolver.

Francisco - Candidato, com relação ao Aeroporto Quero-Quero, algo que está sendo muito discutido ultimamente, qual é a postura do seu governo, caso o senhor seja eleito?

Décio - Olha, acho que nós temos que respeitar, primeiro, a natureza de onde a nossa cidade está. Nós não podemos contrariar a natureza...

Clóvis - No dia em que eles foram apresentar o avião (da Panamericana, que precisou pousar em Navegantes), o avião não consegue descer. Isso é uma coisa estranha. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Décio - Eu fiquei oito anos como prefeito sendo pressionado pela Associação Comercial e Industrial de Blumenau para operar o aeroporto. Fiz a pista, aquela pista que tem lá, foi feita toda no meu governo. Alargamos, fizemos o recapeamento, só não ampliamos a pista para a metragem que se esperava. Agora, o problema é o seguinte: você vai falar com todos os comandantes de aeronaves — até tem um aqui muito querido de Blumenau, que é irmão do ex-prefeito Félix Theiss —, vocês vão falar com a agência nacional que regulamenta todo mundo, não recomendam o Aeroporto Quero-Quero. Tem que derrubar um monte de morros aqui por quê? Não adianta, né? É igual ao Porto de Itajaí. Os primeiros navios eram de 500 contêineres, hoje são de 5 mil contêineres. Agora já tem um de 15 mil contêineres, que não vai entrar em Itajaí, não adianta. Itajaí quer ser o melhor porto. O maior porto do mundo nunca vai ser. E ainda me lembro, quando eu botei aqui a Ocenair Air com quatro vôos diários num Brasília para Congonhas, viajávamos eu e um gordo, o Arninho Buerger, dentro do avião. Aí eu cheguei no Aeroporto de Navegantes e encontrei o PIB da cidade, os executivos, empresários de Blumenau. No Brasília, ninguém anda. Outra coisa: nós temos medo daquele aeroporto. Tá louco! Aquele aeroporto não dá condições. Então, acho que nós temos uma vocação aqui para um aeroporto do tamanho que ele é. Eu acho que o que vai ajudar muito o problema do direito de ir e vir no transporte aéreo vai ser a duplicação da BR-470, que vai começar ano que vem.

Valther - Como prefeito, o senhor privatizaria o aeroporto?

Décio - Não, não digo privatizar porque daria para fazer uma parceria público-privada. Eu gosto mais dessa idéia. Esse negócio, tu põe privatização, tem uma reação ideológica muito forte.

Clóvis - Com essa experiência do senhor em Brasília, no seu mandato como deputado federal, o senhor não quer fazer um mandato olhando pelo retrovisor, como o senhor falou há pouco. Mas o que o senhor aprendeu lá que traz como lição para uma segunda gestão?

Décio - Construí relacionamento muito positivo, que na verdade eu tinha mas ele foi acentuado com esse exercício de deputado federal. Eu acho que, comigo prefeito, Blumenau não vai precisar de senador, de deputado nem de ministro. Falo isso com grau de humildade que tem que ser falado. Mas na vida tudo é relacionamento humano, né? Não quero ser arrogante, mas quem reúne hoje uma experiência e capacitação para fazer bons projetos, com impressões digitais claras disso, como foram o projeto Blumenau Século 21, o projeto Blumenau do Futuro, que lamentavelmente tá parado, sou eu. Tem dois anos ainda do governo Lula para trazer grandes coisas para a cidade.

Clóvis - Quais, por exemplo?

Décio - Bom, primeiro essas obras do sistema viário da cidade, a Ponte do Badenfurt, o binário. Eu acho que quem tem que ganhar a eleição é a verdade, Clóvis. Por Deus do céu, porque eu não posso imaginar que nenhuma obra grande foi feita num bairro da cidade nos últimos quatro anos.

Francisco - Mas no sistema viário?

Décio - Tudo prontinho...

Cao - Tudo na preparação.

Décio - Pois, mas os projetos estão prontos.

Cao - Mas desde quando?

Décio - Desde quando eu deixei a caneta para o outro prefeito. Porque eu deixei, inclusive, as obras licitadas.

Cao - Da Ponte do Badenfurt se fala até antes da tua gestão...

Décio - Não, mas ela foi feita por mim. Foi feito o projeto por mim. Foram contratados R$ 82 milhões com o BNDES, que eu quero ampliar se for prefeito. O projeto executivo pronto, tudo prontinho. Acho que nós não podemos terminar a Via Expressa sem o acesso em nível lá na BR-470. Eu quero aproveitar esse processo de duplicação da BR-470 para resolver todos os problemas do entorno, de acesso à cidade, que são recorrentes, e nós vamos encaixar isso no projeto. O próprio binário da Rua Paris, a ligação Velha-Garcia, as obras paralelas que nós precisamos fazer nos corredores de serviço como, por exemplo, a paralela da General Osório, a paralela da Rua Amazonas, pelo leito do Ribeirão Garcia, a conclusão do prolongamento da Humberto de Campos até a General Osório. Nós não vamos resolver os problemas da cidade. Todas as cidades como Blumenau têm prejuízo do direito de ir e vir. Mas nós temos um problema maior que é a nossa topografia. Nós só vamos resolver com obras impactantes que precisam ser feitas na cidade. Outra coisa: transporte coletivo. Vocês sabem, eu não preciso dizer que fui eu quem integrou o transporte. Renovamos a frota, colocamos aqui a melhor frota do Brasil. Quando eu entreguei, era de quatro anos à idade média. Hoje já tá, infelizmente, deteriorada essa frota. Mas nós vamos abrir o debate para uma coisa inovadora, que eu tenho certeza que não vai falta a mão estendida de Brasília, né? Até pela audiência que eu tive agora com o Alfredo Nascimento (ministro dos Transportes) e com o Márcio Fortes (ministro das Cidades). De aqui ser concebido o primeiro projeto de veículo leve sobre trilhos. Seriam os 11 primeiros quilômetros ligando a Parada 1 nos troncais, a Fortaleza, o Terminal da Proeb e o Terminal da Fonte. Existe recurso para isso, existem operadores internacionais para isso.

Cao - Os recursos, né? Porque se fala muito....

Décio - R$ 100 milhões uma obra dessa.

Cao - O Renato Vianna já falou sobre trilhos, mas chega na hora, bate no recurso. Eu acho que Blumenau realmente precisaria ter uma solução sobre trilhos. Foi falado muito, mas eu não acredito, sinceramente, porque não vai ter verba.

Décio - É duro, até politicamente, falar nisso, pela falta de credibilidade. Só que, Cao, nós temos que entender que o Brasil é outro, né? Nós estamos vivendo num Brasil que está preocupado com um um novo pacto federativo. Um Brasil que tem um Ministério das Cidades. Tem uma fortuna de recursos lá que é só buscar. Um Brasil que está resolvendo. Nós batemos o recorde na queda do desemprego, a menor taxa dos últimos... (pensa um pouco) 100 anos: 8,1%, né? Então, é uma economia diferente da época. As adversidades que o Renato Vianna teve na época, quando falo naquele modelo de Porto Alegre... como é que era o nome daquilo? Era até movido a ar, né?

Cao - Aeromóvel.

Décio - Aeromóvel, né? Agora, veja. Essa discussão está na agenda brasileira. O saneamento, né? Meu Deus, na minha época de prefeito não tinha. Como é que vamos resolver os problemas de saneamento? É tudo R$ 200 milhões, R$ 300 milhões... a cidade arrecadava R$ 70 milhões. Hoje há uma nova realidade, teve um presidente da República que botou o dedo na ferida e tá aí, disponibilizando os recursos. A capacidade de investimento do Brasil é muito positiva, é muito boa. Vocês aqui podem até não gostar... desculpem, eu não quero ofender, podem até não gostar do Lula, né? Mas que é boa essa relação para Blumenau... (risos). Então, é um momento que nós temos que aproveitar, pô! Eu já fiz contato com investidores internacionais. Os empresários têm interesse em abrir esse nicho de mercado porque não conseguem entender um país continental como o nosso estar sobre pneus.

Valther - É verdade. Historicamente, né?

Décio - Quarenta anos nós estamos, desde que o Juscelino adotou a indústria automobilística como uma agenda positiva para o Brasil... não sei o quê enveredou esse país só para as rodovias. O Visconde de Mauá, na década de 20, já abria estrada de ferro na base da picareta, sem nenhuma tecnologia. E o Brasil parou, né? Nós temos um exemplo aqui da nossa estrada de ferro.

Cao - E tem um detalhe: a picareta é mais rápida do que se faz hoje uma obra dessa.

Décio - É verdade, é verdade.


Cao - Um país continental, que deveria ter de Norte a Sul, Leste a Oeste...

Décio - Cortado por estrada de ferro.

Vather - Mudando um pouquinho de assunto, eu quero falar de ideologia... mas antes: qual é o seu time de coração? (risos)

Décio - Metropolitano.

Clóvis - Ah, você é Botafogo!

Décio - Sou Botafogo, é.

Cao - É Marcílio Dias!

Décio - Não, nunca fui Marcílio (risos).

Clóvis - Não ganha mais um voto em Itajaí (risos)

Décio - Uma vez eu tava aqui no Estádio do Aderbal, falecido Aderbal. Eu era Barroso. Eu tava assistindo, torcendo para o BEC... eu odeio Marcílio, né? E, pô... daqui a pouco o Marcílio fez um gol, rapaz. Todos os "alemão" olharam pra mim e disseram: vai-te embora, pé frio! (risos). Pára de torcer para o Marcílio, pô! Mas eu nunca fui Marcílio. Mas toda a vida sofri desgaste político por causa do Marcílio (risos).

Cao - Encontrou uma boa desculpa então: Metropolitano.

Décio - Que, aliás, eu acho um projeto maravilhoso. Acho que agora Blumenau consegue acreditar, né? Tá nascendo com muita credibilidade.

Valther - Ideologia. Hoje é uma salada, né? O PMDB apóia o DEM em Blumenau e o PT, em Itajaí. Estamos a 40 quilômetros, quase no visual. Isso atrapalha um pouco, não digo a credibilidade, mas na atitude dos partidos...

Francisco - a credibilidade no sistema, né?

Décio - (suspira fundo) Eu sou um apaixonado pela democracia brasileira. Faz 20 anos que nós votamos pela primeira vez... ano que vem vai fazer 20 anos. Oitenta e nove foi quando nós votamos para presidente da República. O Cao já é mais velhinho... votou antes da Revolução de 60 (risos).

Valther - Bem mais velho!

Décio - Eu acho que a democracia brasileira é exemplar para o mundo, né? Porque aqui não tem essa história do Al Gore ganhar a eleição e o Bush tomar posse, né? Eu acho que ela é uma democracia que conquistou em pouco tempo uma credibilidade. Até pela paixão do povo brasileiro, pela luta. Por esses processos ruins que a gente teve aí no meio do caminho. Mas eu acredito no seguinte, Valther: nós temos uma regra política muito perversa. Eu acho que ela tem que ser alterada. Acho que a grande reforma que o Brasil tem que fazer é a reforma política. Nós não podemos mais continuar com financiamento privado de campanha. Por que hoje um empresário vai ajudar um político? E o político precisa financiar a campanha. Esse negócio de horário eleitoral gratuito... isso não existe, vocês sabem que tem custo.

Valther - Tem que ter produtora gratuita.

Décio - Claro. O cara me disse hoje na televisão, Clóvis, que na próxima campanha eu não vou nem mais gravar programa. Eles vão fazer um negócio ali que sou eu (risos). Estás me entendendo? O Valther, que é um cara muito mais inteligente que nós todos aqui, vai escrever o que eu tenho que falar e vai aparecer um cara lá que não vai nem ser eu.

Cao - Tecnologicamente, é possível.

Décio - Não tem já aquela menina do Fantástico? Aquela personagem? Então, o que nós precisamos é de uma reforma política, financiamento público de campanha. Tem que repensar essa coisa da representatividade, né? Na própria Câmara. Como é que pode eu pertencer a uma Câmara dos Deputados, que eu cheguei lá com 102 mil votos, e ela ter 1% de credibilidade? Se ela ainda tivesse uns 30%, 40%... o meu filho de 15 anos outro dia disse pra mim: "ô, pai, eu digo lá na escola que eu sou filho do ex-prefeito e de uma enfermeira". Porque lá em casa é dose dupla, né? Os dois são deputados. Eu digo: "mas meu filho, por quê"? E ele: "ah, pai, Deus o livre, eu tenho vergonha de dizer que sou filho de deputado". Então, veja: 102 mil pessoas me mandaram lá para aquele negócio, pô! E, queira ou não, na última eleição, o povo brasileiro mandou 44% dos deputados que tavam lá pra casa.

Cao - Porque o sistema não permite que a Câmara, o Congresso, apitem alguma coisa.

Décio - Não, o sistema é horrível. Pra que o sistema bicameral? A Câmara e Senado?

Valther - Isso, eu acho um absurdo.

Décio - Nós podíamos ter uma Câmara só. Para quê ter 513 deputados? Podia ser menos. A representação... pô, eu não sou deputado de Santa Catarina, por mais que eu queria. Eu sou deputado aqui do Vale, né? Por que a representação não é local. Então nós temos que repensar o sistema. Por isso esse sistema promíscuo. Fica esse negócio que ninguém entende e acaba com o fator ideológico. Isso é verdade.

Valther - Outra coisa: esse sistema do Executivo e Legislativo serem reféns um do outro é cruel. Isso desaguou no mensalão.

Décio - Claro. Este ano, do que nós votamos na Câmara dos Deputados, 90% foi medida provisória. Senão o país pára.

Clóvis - Qual o exemplo que o senhor acha que deveria ser seguido, em termos de sistema?

Décio - Olha, eu acho que muita coisa no mundo. Mas eu acho que o Brasil tem condições de criar um paradigma, né? Porque a nossa realidade é um pouco distinta dos modelos europeus. Nós também temos que cuidar para não fazer um processo democrático que faça com que as pessoas se perpetuem no poder. Você pega o sistema alemão... eu cansei de receber, na época que eu era prefeito, prefeitos da Alemanha que diziam o seguinte: ah, faz trinta e tantos anos que eu já sou prefeito. O cara vira rei, vira uma monarquia.

Cao - Por curiosidade, nunca ninguém me explicou muito bem. O governo Lula e o PT em geral, assim que assumiram, tiveram uma simpatia muito grande por amordaçar a imprensa, ou parte dela. Já que se fala tanto em democracia...

Décio - Assim ó, esse processo felizmente foi abortado pelo presidente porque não foi uma vontade de governo. Foi um processo que começou a se rediscutido por abusos no contexto da execração pública de muita gente inocente, né? A imprensa, o Ministério Público, não podem se arrogar de ser paladinos de uma verdade absoluta nem da moralidade pública. Cometem erros, são instituições humanas. Vou te dar um exemplo: o Ibsen Pinheiro, o homem que decretou e sentenciou o impeachment (do ex-presidente Fernando Collor), que lavou a alma do povo brasileiro. Hoje tá lá, como deputado, velhinho. Levou 10, 12 anos pra provar que a Veja tinha botado seis zeros atrás de uma conta bancária dele, pô! Não é do meu partido. Abusos dessa natureza, que vocês também condenam. Mas como é que vai resolver depois de uma execração pública? É um tanto delicado, né? Como é que vai reparar o dano com um homem daquele, que poderia ter sido governador do Rio Grande. Acabaram com a vida dele. Ele está reduzido a um deputadozinho de baixo clero.

Cao - Acho que a mordaça não é a solução.

Décio - Também acho.

Cao - Devia entrar uma lei e exigir que o Ibsen Pinheiro tivesse quatro páginas, uma edição completa do erro.

Décio - Por isso que eu quero crer que nunca teve qualquer intenção de amordaçar a imprensa. Quem quiser amordaçar a imprensa num sistema democrático tá fora, tá quebrado, não é democrata. Nós temos 1% que acreditam na Câmara dos Deputados, mas fechar aquilo lá vira uma ditadura, né? Por pior que seja aquilo lá.

Valther - Tem que mudar o sistema. Fechar, nem pensar.

Décio - É impensável. Então, eu acho que a idéia foi tentar coibir abusos. Foi errado? Foi errado. Foi equivocado? Foi equivocado. Mas graças a Deus não teve sucesso isso aí.

Francisco - Aproveitando que a gente está falando em política... Blumenau carece de representantes em Brasília. Como se deu a escolha do seu nome pra concorrer à prefeitura de Blumenau? Qual é o seu projeto político?

Décio - Eu nunca fiz planejamento político. Eu sou deputado federal porque num dado momento, numa inauguração no Porto de Itajaí, o presidente Lula, a meu convite, foi lá vistoriar a obra. Em dedo em riste (repete o sinal), ele disse assim: "tu tens que sair candidato". Eu digo: "não, presidente — eu chamo de presidente agora, mas chamo ele de Lula —, a Ana Paula é que vai". Ele disse: "não, agora que nós estamos vivendo estes momentos de extrema delicadeza — tava aquele período do mensalão — é que eu quero ver quem é que vai me ajudar a segurar a bandeira". Então, com isso eu quero te dizer que eu nunca planejei. A verdade é essa. Em 1996, eu não preciso dizer pra você que todo mundo se assustou aqui. Eu mesmo fiquei apavorado. Esse aqui (apontando Clóvis) foi o primeiro dentro do carro, nunca me esqueço disso, na frente da prefeitura. Esse cara entrou dentro do carro. Pra mim, Clóvis Reis era um Deus da imprensa. E eu já era prefeito naquele momento. Eu passei três dias tomando água-de-cheiro para dormir porque... deu a louca, né? Os caras estavam doidos aqui e me elegeram prefeito, como é que pode um negócio desses? (risos). A verdade é essa. Eu saí candidato em 96 porque ninguém queria.

Valther - E o senhor me deve uma latinha de Coca-cola, porque eu apostei que o senhor não seria candidato agora e acabei perdendo. Porque, na minha visão, não era do seu interesse.

Pancho - O partido teve muita influência nesse processo...

Décio - Essa eleição, ela nasceu agora, esse ano. Ano passado, se tu perguntasse para mim, eu diria não, não quero nem discutir isso. Aconteceu assim: você tá numa situação que você arrasta uma legião de companheiros, de amigos, de pessoas. Então, o que aconteceu agora? Aconteceu que bota fulano na pesquisa, faz 4%, faz 5%. Bota beltrano na pesquisa, não tem chance. Quer dizer, potencialmente, o único que teria chance nessa eleição de estabelecer uma disputa de igual, e isso não é só o PT, mas de todos os outros partidos, seria eu. Mas com isso também quero te dizer que, quando caiu a ficha, que eu me convenci que teria que ser candidato... e por que que eu teria que ser candidato? Porque eu estaria construindo uma imagem de covardia, de renúncia. Então criou-se uma maledicência na cidade dizendo que eu fui embora. Eu ia trabalhar aqui no Porto de Itajaí, eu ia e voltava todos os dias. Trazendo um gordo e voltando (Décio brinca, referindo-se ao assessor Arno Burger).

Cao - E agora é magro.

Décio - Hoje é magro, na época era pesado (risos). Criou-se uma agenda negativa, eu achei que é o momento de fazer um debate com a cidade. De prestar constas para a cidade. Eu nunca estive tão apaixonado numa eleição como eu tô agora.

Clóvis - O senhor está entusiasmado.

Décio - Tô, Clóvis. Porque assim, ó: agora eu tenho projeto pra cidade. Eu te confesso que em 96 eu não tinha projeto, eu tinha um programa, que era um programa comum de um modelo de algumas experiências do PT no Brasil. Banco do Povo, Orçamento Participativo e algumas outras coisas que nós inventamos: pólo da moda, Prove Blumenau, alguns programas...

Valther - Escola Sem Fronteiras.

Décio - Escola sem fronteiras, né? (risos)

Maicon - Décio, você já admitiu numa entrevista que a Escola Sem Fronteiras não volta mais. Isto significa admitir o fracasso desse modelo ou significa ponderar que a comunidade ainda não esteja pronta para um modelo mais sofisticado de educação? E já que ela não volta, qual seu projeto de educação?
Décio - Eu não posso dizer que o modelo fracassou. Talvez a aplicação do modelo foi errada. Porque eu não sou um expert na área da pedagogia, não sou uma pessoa que possa dizer qual o melhor modelo de educação que existe hoje no mundo. O que eu quero dizer é que a Escola sem Fronteiras foi objeto de muitas contradições e de muitas contrariedades, né? Se tivesse dado certo, eu estaria tendo isso, inclusive, como um Norte de campanha. Mas eu reconheço, faço uma autocrítica. Agora, não posso dizer que ela foi um fracasso total. Existem muitas coisa boas dela, que ainda permaneceram. E outras poderão voltar, como, por exemplo, o dia de estudo para os professores. Era algo maravilhoso que os professores querem que volte. Agora, qualquer mudança na escola, e isso sim eu aprendi, ela só pode ser feita com a aquiescência da própria escola. Nós temos um modelo, felizmente construído em Blumenau, que a escola tem uma autonomia, é quase uma universidade. Então, não adianta vir, de forma vertical, intervir numa escola. No mais, eu penso que nós não podemos oferecer para os nossos filhos a mesma escola que eu tive há 30 anos. Não podemos entender que nossos filhos estejam numa sala de aula com giz e quadro negro quando o mundo tá ligado no computador e na internet, né? Por isso eu tô lançando esse programa Blumenau Digital, que é um programa factível, viável. Isso não é uma novidade no Brasil: se pegar toda a Zona Sul do Rio de Janeiro, está toda linkada com computador e internet de graça. A idéia é criar os telecentros nos bairros, com acessibilidade. A escola ideal é aquela do tempo integral. É uma escola que pode cuidar da cidadania. Só que isso é um processo.

Clóvis - Também na linha da educação, qual é o compromisso do senhor com a federalização da Furb?

Décio - O compromisso é total, e eu já assumi isso em público. Independente de ser prefeito ou não, eu tenho um compromisso como homem público, pelo relacionamento que eu disponibilizo em Brasília. Eu acho que foi bem recebido pelo ministro Fernando Haddad. É uma conversa que vamos ter que fazer depois do calor político, não dá para fazer nesse período de eleição porque senão vai tirar a própria credibilidade daqueles que construíram esse processo, né? Mas eu vejo que é possível, porque nós somos uma região que não tem ensino público gratuito e nem as digitais do governo federal. Segundo, porque nós temos um modelo que foi construído pela comunidade da Furb. É um modelo viável, não esbarra em problema de natureza jurídica. Por último, eu acho que é uma saída para as fundações no Brasil. Porque as fundações foram criadas na década de 60, numa realidade que nós vivíamos. Foram importantes na formação de gerações, mas o modelo de fundação do ensino de terceiro grau é um modelo que tá ultrapassado. Então, o exemplo de Blumenau pode se um paradigma também para ter uma situação planificada do país, e a gente resolve os problemas das fundações. E isso não sou eu quem está dizendo, foi tido pelo ministro Fernando Haddad.

Giovana - Candidato, o senhor disse ao Santa que não deixaria a Câmara dos Deputados para concorrer. O que o fez mudar de idéia?

Décio - Porque eu vi que estava sendo incompatível. Os outros quatro candidatos têm as pernas boas, andam bem, correm bem. Eu já sou manquinho e ainda tenho que pegar avião 4 mil quilômetros (risos). Mas nessa corrida eu perco, né? Mas mesmo assim, graças a Deus, Giovana, nós votamos algumas leis importantes. O presidente Arlindo Chinaglia fez com os quase 100 candidatos a prefeito um apelo, inclusive que não se peça licença, porque essa licença tem um custo pro Brasil.

Giovana - Então o senhor não se licencia?

Décio - Não vou me licenciar, atendendo ao apelo do Arlindo Chinaglia.

Francisco - Candidato, há uma guerra fiscal no Brasil entre municípios e estados para atrair investimentos, novas fábricas. Qual sua posição em relação aos incentivos fiscais?

Décio - Acho que a experiência na época que fui prefeito foi muito boa. O último grande empreendimento que Blumenau recebeu foi no meu governo, os coreanos da Huvis. Depois, não veio mais nada. Os empregos em Blumenau são reflexo da política econômica do presidente Lula. Eu fui prefeito, eu sei o que um prefeito pode criar de emprego ou não. Acho que algo que precisa despertar na nossa cidade é a questão do turismo. Nós temos ainda um modelo industrial muito forte, né? Eu tenho em mim uma lembrança do que o Beto Carrero uma vez disse. Eu falei pra ele: "Beto, faz um parque aqui na região das Itoupavas". Ele respondeu: "Não, Décio, não precisa. Blumenau já é um parque. O que as pessoas precisam saber é fazer turismo. Não dá para entender que uma cidade com essa generosidade da natureza, no Vale com esse charme alemão, ficar perdendo para Gramado".

Francisco - O senhor acredita, então, que, além do turismo de eventos, Blumenau tem potencial para turismo de lazer?

Décio - O turismo no sentido mais plural possível, né? Navegar o rio, eu acho que nós temos que... a gastronomia, acho que pode potencializar...

Francisco - O senhor tentou navegar o rio e não conseguiu, com o Manezinho. Não falta cultura pra isso?

Décio - Ali o empresário cometeu uma porção de erros. O primeiro erro foi colocar o meu nome naquele negócio (risos). Eu viajo, volto de viagem, chego ali e botaram o nome meu naquele...

Valther - Mas para nós, colunistas, foi uma maravilha (risos).

Décio - Eu não sei onde o cara tava com a cabeça de achar que, né? Então veja, o rio está baixo, eu fiz o balizamento do rio, da navegabilidade do rio. Blumenau abandonou o rio, nós fundamos essa cidade através do rio e abandonamos o rio, a verdade é essa. Nós não curtimos o rio. O rio ficou culturalmente para nós como um negócio ameaçador: é enchente.

Valther - A gente sujou o rio também e paramos de freqüentar o rio.

Cao - Uma coisa que me intriga. Eu não gosto da chegada em Blumenau. É muito rancho, muito outdoor, é uma sujeira. Antes do Sesi, o cara tem uma expectativa de Blumenau e do Vale europeu, a cidade limpa... Aí chega e vê o excesso de placas, as construções velhas, irregulares, na beira do rio.

Décio - Você tem razão. Mas agora, veja, acho que o prefeito pode fazer muita coisa, mas a cidade tem que se vocacionar pra isso. Isso é um olhar de quem imagina uma cidade turística. Agora, isso tem que ter a participação, a sinergia dos empresários, porque senão nós não tiramos placa. Esse negócio de despoluir a cidade, quando eu fui tirar o paralelepípedo da Rua XV de Novembro para nós fazermos a urbanização, queriam me matar porque era pedra de Getúlio Vargas, que não sei mais o quê... aí, por exemplo, o projeto de limpeza visual da cidade, principalmente do Centro, tá pronto. Só que tu vai lá...

Valther - Das fachadas, né?

Décio - Das fachadas. Só que tu vai lá dizer para uma rede lojista que é padrão e eles dizem: "eu vou embora de Blumenau". Quer dizer, o pessoal tem que assimilar isso. Acho que a CDL, o Sindilojas e os empresários têm que assumir essa tarefa. Tirar outdoors, tirar placa, não tem problema nenhum. O problema é que isso tem que ser feito de uma forma tão democrática que crie menos problemas. Porque limpar esse visual da entrada da cidade não é difícil. É fácil.

Fabrício - Essa mentalidade industrial, o dono de bar fechando cedo, o dono do restaurante que vai pra praia. A prefeitura não pode acreditar sozinha no turismo... como é que se muda isso?

Décio - Eu acho que o turismo não é prioridade empresarial no mundo todo. Eu acho que a prefeitura tem que ser a organizadora, tem que ser incentivadora, tem que estabelecer algumas regras. Sabia que a prefeitura é dona do Froshin? O que eu acho que é um absurdo. Precisa licitar aquilo de 10 em 10 anos... é uma atividade dos empresários.

Fabrício - Mas esse assunto sempre volta e me parece que esse comportamento conspira.

Décio -E com isso perdemos milhares de empregos.

Maicon - Sobre lazer e cultura. A alta adesão do blumenauense ao Ramiro Ruediger mostra que os espaço foi bem aceito. Qual seria a sua idéia? Por exemplo, a gente falou sobre a questão do turismo, mas Blumenau nunca conseguiu fazer uma feira do livro. Qual o seu projeto pra essas áreas?

Décio - Vamos pegar primeiro o Ramiro. Todo aquele projeto, que eu aplaudo, foi feito por mim. Inclusive os espaços de água que têm lá. Uma pista foi feita por mim, a iluminação foi feita por mim, as quadras foram feitas no meu governo e foram melhoradas, evidentemente, no governo do João Paulo, onde ele fez uma solução de continuidade, que eu acho coisa boa, porque a democracia não pode atrapalha as obras públicas e as políticas públicas. Então eu parabenizo ele por ter continuado um projeto que era meu. A questão cultural: eu acho que nós temos que retomar ele do ponto de vista popular. Porque a conta dos eventos revela isso. Nós realizamos 2,8 mil eventos no período de oito anos. Esses eventos e os espaços que eram levados para as periferias da cidade, foram liquidados. Mas acho que a questão cultural, pela relação que eu construí com a cultura, ela tem que ser a mais democrática possível, porque é um universo mais difícil e complexo de trabalhar. Reunir os artistas, teatreiros e todos os segmentos, todas as manifestações culturas...

Maicon - É um pessoal que brinca bastante.

Décio - É uma massa crítica de um nível... eles estão muito além da vida, da rotina normal das pessoas. Agora, também concordo contigo que nós temos que aprofundar. Os dois últimos festivais, o Festival Infantil do Teatro foi criado na minha época, e o Festival das Danças Folclóricas, que traz gente do Nordeste, que traz aquelas atrações, também foi na minha época. Eu acho que nós podemos ter uma agenda de festivais muito maiores, porque hoje Blumenau tem uma infra-estrutura maravilhosa. Se nós olharmos o que que é o Teatro Carlos Gomes, como centro de referência. Mas eu penso que qualquer agenda cultural tem que ser muito bem democratizada. Você não pense que essa torre que o Guido Heuer tá botando na Praça das Gaitas Hering... não tá uma convulsão no meio dos artistas. Tá. Eu sei porque eu passei isso quando botei aquela obra lá da Ponte do Tamarindo. É um mundo muito delicado, não é fácil. Se botar tudo numa sala, o pau come (risos).

Giovana - Candidato, em relação à sua atuação na Câmara dos Deputados. O senhor apresentou o projeto do cheque garantido. Por que ela não foi votada até agora? Qual é a previsão de votação?

Décio - Olha, a agenda da Câmara é pautada por um regimento que estabelece uma ditadura de líderes. Eu sou vice-líder da bancada do PT, isso é uma coisa inusitada, porque o novato costuma levar 10 anos para chegar a ser vice-líder. Vice! Então, há uma ditadura de lideranças naquilo. Se você olhar e acompanhar as sessões plenárias da Câmara, você vai se dar conta de que os líderes é que falam.

Valther - Sempre os mesmos. E no Senado também.

Décio - Sempre os mesmos. No Senado também, né? Então, as lideranças, tanto da situação como da oposição, é que fazem a agenda da Casa. Esse meu projeto já passou pelas comissões importantes da Casa. Eu acho que nós vamos ter condições de colocar isso ainda agora no segundo semestre. A lei do cheque não é complexa... não há um lobby forte contra.

Francisco - Candidato, o que o senhor fez nos seus oito anos que o senhor não repetiria de jeito nenhum caso for eleito?

Décio - Olha, os erros que foram cometidos foram humanos. E é inerente ao ser humano, não houve dolo. Não tem registro de que, por força deliberada e com as minhas digitais, tenham acontecido erros que sejam, de certa forma, dolosos. Agora, eu acho que o meu governo cometeu um erro grave: foi não comunicar. Eu acho que nós vamos tratar de fazer a boa comunicação. A minha relação com os órgãos de comunicação da cidade, eu reconheço, não foi das melhores. Eu fiquei muito me queixando da imprensa. Eu não tinha compreensão. Com a imprensa não adianta se queixar, você tem que ir lá conversar, falar.

Francisco - No debate das rádios Nereu e Clube o senhor falou sobre o tratamento com o servidor público na greve. O que muda nesse relacionamento?

Décio - Ali eu não percebo como erro meu. Eu sou da geração de prefeitos que recepcionou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Entramos num processo de implantação de uma ordem jurídica que era um punhal. Não tinha meio, mudou culturalmente a relação, por obrigação. Eu podia ter evitado as duas greves que eu tive, era só dar aumento pro servidor. Mas qual era o reflexo disso? Era sair da prefeitura algemado, entende? Eu provavelmente estaria aqui inelegível.

Cao - A lei não chegou a punir ninguém, né?

Décio - Mas olha, Cao. Tem muita gente boa que não é candidata nesse momento porque não atentou para esse detalhe.

Valther - Pune, sim. A gente que acompanha um pouco aí os processos...

Décio - Improbidade.

Valther - Não tem dado é manchete porque são casos pipocando, né?

Décio - Por isso é que eu não concordo com o atual prefeito quando ele diz que recebeu a cidade com dívida. Isso não existe. Se ele ganhar, espero que não fique mais quatro anos chorando porque a cidade está com dívida. Porque quando eu recebi a prefeitura, nunca culpei o Renato Vianna. Eu nunca o culpei, eu representava uma geração de prefeitos que, meu Deus, o prefeito era recebido em Brasília com o cachorro e a polícia. Essa é a grande verdade. Nós éramos piores que o MST, lá. Eu fico imaginando os meus antecessores, a dificuldade que eles tinham, arrochados num pacto federativo, com centralização econômica. Se vocês olharem o que os municípios receberam nos últimos anos, com relação às gerações anteriores, é uma realidade totalmente positiva. O que acontece? Quer falar de dívida, eu falo: R$ 106 milhões só a dívida previdenciária que eu recebi, entreguei com R$ 12 milhões. Mas é dívida fundada, para pagar em 20, 30 anos, está entendendo? Eu recebi a cidade com folha de pagamento atrasada, com 13º, sem caixa. Aí diz que Blumenau tava no Serasa, que é uma coisa que não se deve falar. Está querendo dizer que o povo dá cheque sem fundo, denigre a imagem. Isso conspira contra tudo que nós estamos falando aqui, de cidade turística, de cidade maravilhosa, de não sei o quê...

Clóvis - Uma dúvida, o senhor usa a aliança no dedo do meio? (risos)

Décio - Ah, eu uso aqui sabe por quê? Porque eu tinha 86 quilos, aí...

Cao - O Arninho (Burger) tá usando no polegar! (risos)

Décio - Aí eu baixei para 74, perdi 12 quilos, e a aliança começou a cair (tira a aliança do dedo e a coloca na mesa). Aí a Ana Paula disse: "usa nesse dedo que vai ficar até charmoso". Já faz cinco anos. Aí depois, quando eu olhei... (levanta-se da cadeira, engrossa a voz e imita o presidente Lula mostrando que ele também usa a aliança no mesmo dedo. Todos caem na risada).

Clóvis - É uma senha, viu? Só entra no gabinete se a aliança está no mesmo dedo (risos).

Maicon - E qual o segredo para perder 12 quilos?

Décio - Carboidratos. Não como carboidratos, não precisa. Carne e verdura, né? Nada de verdura que tá debaixo da terra. Deixa até eu te explicar, sabe qual é o problema do carboidrato? Você pega uma costela daquela gorda, come toda a gordura, não tem problema. Teu organismo metaboliza numa boa. Se tu botas uma colherzinha de farofa ou uma colherzinha de arroz ou uma batata, o carboidrato retém a gordura toda no corpo. Só que tem os prós e contras, porque tem que ter alguns cuidados.

Maicon - Um livro que você leu e que indicaria... menos O Capital (de Karl Marx) e a Bíblia, por favor...

Décio - Eu leio uma média de um livro por semana, no máximo 15 dias. Agora, os mais recentes que eu li e que recomendaria... o 1808 (de Laurentino Gomes), a história da vinda da família real, porque dá uma visão de Brasil e te dá um resgate de auto-estima. Porque se imaginar que há 180 anos, um pouco mais, o Dom João VI chegou no Rio de Janeiro, e o Rio de Janeiro tinha 60 mil habitantes, dos quais 20 mil eram negros, escravos... e ele chega com 15 mil funcionários públicos! Pelo que narra o livro, é uma sujeirada! Agora eu estou lendo, que também recomendaria, uma breve história de um escritor inglês que dá uma visão... ele começa a contar 10 milhões de anos atrás os acontecimentos do mundo. É uma paulada!

Francisco - Se o senhor for eleito, qual o critério a ser usado para compor o colegiado? Principalmente se Morastoni for reeleito, porque boa parte dos que estavam aqui foi pra lá...

Décio - Não, isso também não é verdade. Quem foi pra lá fui eu e um ou outro funcionário.

Francisco - Mas o João Krein tava lá.

Décio - O João Krein foi embora de Blumenau.

Francisco - Enfim, que critério o senhor vai usar, quem são as pessoas que iriam compor?

Décio - Eu tenho obrigação, pelo fato de ter sido prefeito, de fazer o governo mais competente que essa cidade já teve. Então, eu não tenho justificativa nenhuma se o povo de Blumenau me der um terceiro mandato de cometer erros por incompetência.

Maicon - Embora não seja um privilégio do PT, ele é acusado de onerar muito a máquina pública com cargos comissionados. Qual é a sua visão sobre isso?

Décio - Isso é uma falácia, né? Minha visão é que isso é uma mentira. A imprensa é movida por informações que não estão corretas. Eu entreguei a prefeitura com 258 cargos comissionados, hoje tem 260. Eu entreguei a prefeitura, os cargos comissionados ganhavam 30% a menos que estão ganhando hoje.

Maicon- Mas você vai diminuir?

Décio - Eu, não. Veja, eu vou ter a máquina que precisa pra dar conta de um programa de governo que o povo de Blumenau vai referendar. Pode ser diminuída, pode se aumentada, na medida que não prejudique as políticas públicas. Eu não entro nessa de que o Estado, quanto menor, melhor. Por isso que eu quero dizer: uma das coisas que me anima e me apaixona em ir pra essa campanha é estabelecer a verdade. Porque o povo de Blumenau não vai votar em mentiras. Vou te dar mais um exemplo: vão criar 4,3 mil vagas em creches até o final desse ano contabilizando quatro anos. Sem fazer uma creche! Eu fiz exatamente 16 creches no meu governo, inaugurei. Fiz 3,2 mil vagas em oito anos. Até agora, não foi inaugurada uma sala, uma creche. Onde botaram esses alunos?

Maicon - Só para concluir os cargos comissionados, com a sua experiência de dois mandatos, quantos cargos você precisaria para manter um governo interessante?

Décio - Olha, não mais do que está aí. Acho que a máquina não precisa crescer mais porque nós temos que fazer uma readequação de acordo com os programas. Por exemplo: a área da agricultura familiar não tinha patrulha mecanizada, semente, apoio técnico... foi tirado tudo nessa área, que era um programa que a gente desenvolvia. Eu vou recompor esse programa. Então vamos precisar de técnicos, de uma estrutura diretiva. Algumas outras coisas que ele fez, que ele criou neste período, que esbarram ideologicamente com o pensamento que eu tenho no meu programa, provavelmente vou extinguir. Eu acho que não muito mais do que está aí. Eu conheço a máquina.

 

JORNAL DE SANTA CATARINA

 

Comentários

Lígia  - 

Denuncie este comentário29/09/2008 12:35

OBRAS, OBRAS, SAÚDE OBRAS E SAÚDE E´TUDO O QUE VOCÊS FALAM ....... ! Ao Candidato a Prefeito Se fala tanto na saúde mas quem melhorou a saúde não foi nenhum prefeito, mas sim o presidente Fernando Henrique Cardoso que estava trabalhando a economia do Brasil (querendo trazer investidores ao Brasil) e procurando uma forma para deixa-lo em melhor situação em relação a outos países do 1° 2° e 3° mundo já que na época o brasil não estava sendo bem visto por sua alta taxa de mortalidade infantil, analfabetização e diferença social. Lógico que o que ele fez começou a refletir de uns 4 a 5 anos para cá, ainda tem muito o que melhorar. Mas as suas intenções em relação a saúde e bem estar do povo estamos todos cientes. Bem estar inúmeras obras para que facilite o ir e vir de todos. Saúde espero que seja a conclusão do hospital universitário e não postos de saúde abertos 24 horas, que vai gerar um gasto gigantesco para o município afinal de contas é para isso que temos hospitais. As filas dos postos só vão ser controladas educando o povo que amanhecer nas filas não vai agilizar a sua consulta, mas sim mais profissionais trabalhando nos postos entre 07 horas da manha e 20 horas da noite. Se alguem precisar de atendimento fora deste horário vai procurar um pronto socorro que ficam abarrotados de atendimentos e filas de espera por falta de médicos nos postos durante o dia. È ilusão de qualquer politico que venha prometer em horário eleitoral postos 24 horas, isso é inviável de forma custo beneficio, me diz quem vai procura um posto a 01 hora da manha o que adiante se la não tem laboratório para fazer exames para ajudar uma pessoa doente a ponto de procurar um socorro de madrugada. E quanto a educação como fica, sabemos que escola em período integral minguem vai fazer só se construírem umas 100 novas escolas no município porque quem precisa não é a classe menos favorecida mas todos que tem filhos. E o ensino ainda não atingiu a media nacional que é para atingir, qual é a tua proposta em relação a isto, garanto que ônibus de graça não vai resolver a situação, mas sim tornar a escola mais atrativa para o aluno e professor.


Marcos

Denuncie este comentário26/09/2008 14:17

Relatando sobre o assunto da administração no poder executivo e legislativo, o decio ta certo isso mostra que sabe da onde vem o problema.Dando como o exemplo, a discursão sobre os direitos fundamentais art 5° I parag. CF/88. (reserva do possivel, minimo existêncial). Mas o queria ler era sobre o transporte urbano que é o problema de agora mais grave e que vai piora mais ainda!!

Artur Moser / 

Décio Lima falou aos repórteres do Santa

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