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29 de março de 2024
 

Eleições 2008 | 03/06/2008 | 11h47min

Alianças esquisitas marcam ano eleitoral na Serra Gaúcha

Apesar de orientações contrárias dos comandos nacional e estadual, partidos como PT, PMDB, PSDB, PP e DEM costuram coligações em várias cidades da Serra.

Vania Espeiorin | vania.espeiorin@jornalpioneiro.com.br

A preocupação em estabelecer alianças partidárias que tenham como referencial a questão ideológica praticamente caiu por terra nos últimos anos. Hoje, namoros e casamentos entre PT e PMDB e entre PT e PP parecem não causar mais espanto. Numa consulta feita pela reportagem do Pioneiro nos 20 principais municípios do Nordeste gaúcho, verificou-se que em 13 deles há conversações um tanto esquisitas entre legendas, tendo como foco as eleições municipais de 2008. A maioria delas envolve petistas, que costumavam se colocar numa linha de oposição a siglas tradicionais e conservadoras, como PP (ex-Arena) e DEM (ex-PFL).

Mas o mais inusitado mesmo fica por conta da possível aproximação do PT com o DEM, em Farroupilha, e dos petistas com tucanos em Nova Petrópolis e São Marcos. Na defesa das costuras eleitorais, os dirigentes locais dos partidos alegam que a realidade nos municípios é diferente da realidade do Estado e do país. No caso do PT, existe uma resolução nacional, confirmada pela direção estadual, que proíbe alianças com tucanos e democratas. PSDB e DEM fazem permanente oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional, lembra o líder do PT gaúcho, Olívio Dutra.

— DEM e PSDB estão excluídos de nossa política de alianças. Contraria a decisão do congresso nacional (do PT). Com esses dois partidos, não tem coligação — pontua o ex-governador petista.

Por outro lado, Olívio ressalta que também existem boas pessoas no DEM e no PSDB e, se essas pessoas desejarem apoiar candidaturas petistas, poderão fazer isso sem problemas. Por integrarem a base do governo Lula, Olívio não vê empecilhos nas aproximações do PT com o PMDB, tradicional adversário dos petistas aqui no Estado, e do PT com PP, cuja linha ideológica é marcada por diferenças em relação às bandeiras petistas. Enquanto progressistas defendem a economia de livre mercado e valorização do lucro, o PT prega idéias inspiradas no socialismo clássico.

Na presidência do PP gaúcho, o deputado estadual Jerônimo Goergen analisa como um avanço a chance de coligação com os petistas, a exemplo do que pode ocorrer neste ano em Caxias do Sul. Conforme o parlamentar, o comando estadual respalda todas as decisões que as direções progressistas municipais vierem a tomar.

— Se for para a construção de um projeto em benefício das comunidades e sem fi siologismo, estamos abertos. Vejo essa fase como de fortalecimento do PP e de transição entre partidos que deixaram de ser radicais — analisa Goergen.

Já para o presidente estadual do PMDB, senador Pedro Simon, a possibilidade de união do PP e do PT caxienses é algo surpreendente.

— Não tem explicação— resume o líder peemedebista.

Para Simon, o quadro que os brasileiros estão vendo de dezenas de siglas em atividade e de amarrações entre as mais variadas ideologias e princípios partidários, é ridículo e vem se disseminando por todo o país. Segundo Simon, as legendas, em especial o PT, vêm arregimentando coisas que pareciam impossíveis há até pouco tempo.

— A rigor, está um caos. Estão fazendo alianças da maneira mais esdrúxula— opina.

No caso dos namoros entre PMDB e PT, Simon diz que não há como o comando estadual interferir. O peemedebista dá a entender que a situação fugiu do controle partidário.

— Não é que esteja liberado, é que não podemos impor nada porque cada partido (nas cidades) está seguindo seu rumo, infelizmente. O que a gente aconselha é que os candidatos defendidos ou apoiados pelo PMDB tenham um passado ético — orienta o senador.

Ao avaliar o quadro de alianças noBrasil, o doutor em Ciência Política João Ignácio Pires Lucas diz que hoje a anormalidade numa eleição não está mais na união de siglas com pensamentos ideológicos distintos, mas sim nas disputas em que os partidos concorrem com chapa própria e sem adesões. De acordo com Pires Lucas, talvez o que ainda surpreenda um pouco a população e seja interpretada como novidade é a atitude do PT de formatar alianças com legendas com as quais não mantinha relação. Porque, de outra ponta, com partidos como PP, DEM e PMDB, a prática de aliança das mais variadas formas vem desde meados de 1980, à época do presidente e hoje senador José Sarney (PMDB-AP), recorda o cientista político.

— Hoje em dia, se pegarmos os governos Lula, Yeda (governadora Yeda Crusius, do PSDB) e Sartori (prefeito de Caxias, José Ivo Sartori, do PMDB), vemos que as alianças estão mais amplas. Isso tende a ser cada vez mais natural — projeta o estudioso.

Sob o eixo da ideologia, Pires Lucas avalia que há diferenças entre as siglas, mas já não são mais como as de antigamente. Por isso, algumas uniões, como as que envolvem PT com PP ou PT com PSDB, ainda despertam estranheza nas militâncias.

— Se verificarmos os programas, os partidos não mudam muito. Se pegarmos as idéias de capitalismo e socialismo, aí perceberemos distinções. Mas, mesmo as diferenças ideológicas já não são mais como eram no passado — constata Pires Lucas.

 

Pioneiro

 

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As ideologias distintas e os conflitos no Estado não influenciam a aproximação nos municípios

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