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eleições 2008

 

 
4 de maio de 2024
 

Porto Alegre | 27/08/2008 | 09h45min

Neurocientista avalia por que a memória dos eleitores é curta

Entrevista: Martín Cammarota, pesquisador do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS

Para o neurocientista Martín Cammarota, pesquisador do Centro de Memória e vice-diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), a memória curta do eleitor têm uma explicação fácil: o cérebro simplesmente descarta as informações recebidas durante a campanha eleitoral porque a maioria delas não é digna de ser lembrada. Confira a síntese da entrevista com o pesquisador, que também é professor de neurologia da Faculdade de Medicina da instituição:


Zero Hora – Por que a memória dos eleitores é tão curta?


Martín Cammarota – Isso pode revelar uma apatia, um certo desinteresse. A campanha é tão vazia que não há nada para lembrar. Em geral, lembramos melhor e por mais tempo daquelas informações que têm alguma relevância. A maior saliência dos políticos em geral são os escândalos, não as promessas de campanha, todas praticamente iguais.


ZH – Como se dá o processo de fixação da memória no cérebro? Existe descarte das informações consideradas pouco relevantes?


Cammarota – As memórias geralmente são decorrentes de eventos que se sobressaem mais para o indivíduo, que são mais importantes. Às vezes, isso nem é consciente. Depois que a informação é adquirida, existe um processo de filtragem, que se denomina consolidação. Nem tudo é armazenado como memória, obviamente. Não se sabe exatamente como funcionam todo esse processo, mas há fatores que influenciam. A emoção, por exemplo, é uma coisa que influencia, assim como a importância e a atenção. Tudo isso influencia a consolidação da memória e quanto tempo ela vai perdurar. Mas para cada sujeito é diferente.


ZH – O fato de os eleitores esquecerem demonstra que as campanhas têm pouco impacto em suas vidas?


Cammarota – Há milhões de candidatos, que se diferenciam por muito pouca coisa. Geralmente, se um tem nariz de palhaço ou não, se cria um nome esquisito ou não, ou tem um jingle criativo. Esse marketing ajuda a fixar na cabeça do eleitor, mas em termos de propostas há um vazio. A maioria dos eleitores não lembra porque sabe que aquele discurso não vai fazer diferença nenhuma. Muitas vezes, não há nada para prestar atenção. Nós não lembramos porque não há nada digno para lembrar. Mas o problema são os candidatos, não somos nós.


ZH – Como o eleitor pode exercitar a sua memória?


Cammarota – Não existe uma receita pronta, nem uma pílula salvadora. Mas levar uma vida saudável e rica do ponto de vista emocional pode ajudar, assim como prestar atenção nas coisas. O cérebro não é um órgão que existe isolado, então ter uma boa qualidade de vida e interessar-se pelas coisas é o que é o mais importante. Se nos interessássemos, lembraríamos.

 

ZERO HORA

 

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