Barcelona muda e vence bem, com Iniesta desestruturando a marcação italiana |
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Ontem contra a Inter de Milão o técnico Guardiola preparou uma variação tática interessante no Barcelona. Ele abriu mão do tradicionalíssimo - e histórico - 4-3-3 do clube catalão, posicionando os jogadores em um 4-4-2 com desenho de difícil descrição no meio-campo. E a modificação de sistema em nada alterou a estratégia de jogo do Barça, que seguiu valorizando posse de bola com objetividade e ofensividade.
Culturalmente, o Barça joga no 4-3-3 com triângulo alto - vejam aqui. Na linha defensiva há sempre um lateral-apoiador e um base; no meio-campo, um volante centralizado e dois meias articuladores e ofensivos na base alta. O ataque costuma ter dois "pontas" de pés invertidos - destro na esquerda, canhoto na direita - com um finalizador na área. Mas ontem Guardiola não tinha nem Messi nem Ibrahimovic. E mudou o sistema.
Henry passou para o centro do ataque, com Pedro aberto na ponta-esquerda. Mas Iniesta, substituto de Messi, não foi atacante pela direita. Ele fechou para a meia-direita, empurrando Xavi para o meio e Keita ainda mais para o lado. Esta basculação dos meias formou uma espécie de linha com Keita na esquerda, Xavi ao centro e Iniesta pela direita - completamente livre para se movimentar e fazer diagonais na direção de Henry.
Esse posicionamento novo segurou Xavi, que permaneceu mais por dentro, no auxílio a Busquets. E Iniesta desestruturou o sistema defensivo da Inter, no seu 4-4-2 em losango. Ele bateu com Cambiasso, primeiro vértice do meio-campo, mas pela movimentação frequentemente tirou o volante argentino da frente da área, abrindo espaços para a circulação - sem marcação - de Henry, Pedro, Keita ou Xavi na entrada da área italiana.
Outro detalhe ofensivo é a compensação de forças, mantendo o equilíbrio da equipe. Sem Messi, e com Iniesta fechando na meia-direita, Guardiola abriu um corredor para o apoio de Daniel Alves. O lateral-direito atuou de maneira muito ofensiva. Do outro lado, com Pedro e Keita ocupando a faixa esquerda ofensiva, Abidal praticamente não pisou no campo adversário, mantendo-se na base da linha. Iniesta ora subia pelo meio, ora ajudava Daniel Alves na direita. O meio ainda contava como pivô de Henry e a aproximação de Xavi. Muitas opções, em todos os setores.
Defensivamente, houve uma basculação interessante. Pique saía na eventual cobertura de Daniel Alves, trazendo Puyol para a zaga central, e Abidal para a quarta-zaga. Esse movimento lateral sincronizado da linha defensiva é comum nos times que se utilizam do 4-4-2 em duas linhas, já que em outros sistemas quem cobre o lateral é o volante. Mas o Barça adotou esta estratégia, com sucesso, mantendo Busquets na frente da área, enquanto os zagueiros e Abidal seguravam as pontas na linha defensiva.
Um parêntese é válido para Mourinho. Embora seja seu fã, mais uma vez o técnico português até certo ponto me decepciona. Ontem no losango ele escalou três volantes marcadores: Thiago Mota, Cambiasso e Zanetti. Sei que estava sem Sneijder, mas ainda assim faltou ambição. A Inter jogou para não sofrer gols - como aconteceu em Milão no turno - e permitiu ao Barça controlar a posse sem oferecer resistência. É pouco para um grande elenco e para um grande técnico.
Mesmo sem o 4-3-3, sem Messi e Ibra, e com todas essas alterações táticas significativas, o Barcelona não alterou sua filosofia de futebol. Uma maneira linda de jogar: a posse de bola objetiva. O Barça teve assustadores 66% de posse. A Inter praticamente não viu a bola. E não é um controle enfadonho, de passes laterais.
A posse do Barça é objetiva. Trocam passes e se movimentam buscando espaços para a imediata infiltração. E quando não encontram chance, retomam o movimento devolvendo a bola para Xavi ou Iniesta redistribuírem o jogo. São muitas variações, combinações e movimentos ofensivos de uma equipe que chega a se posicionar com sete jogadores no campo ofensivo - o que permite pressão-alta na marcação assim que a bola é perdida, forçando o adversário a errar o contra-ataque.
Eu vejo o Barcelona jogar desta forma - sem Messi e Ibra - e lamento que no Brasil tanta gente goste do 3-6-1...como é bonito ver uma equipe que gosta de jogar futebol com a bola no pé sem perder a objetividade e sem se desguarnecer, marcando forte no campo adversário e criando diversas opções de jogadas.
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